segunda-feira, 5 de julho de 2010

Silêncio da solidão


Ela caminhava por aquela estrada que os seus pés conheciam intuitivamente, sentia-os molhados, ia descalça. Sim, descalça. Enquanto se dirigia para o banco do costume, pensava: “Eu sou aquela que busca os silêncios”. Os silêncios que para muitos são momentos perturbadores, inquietantes e dilacerantes do bem-estar interno.
Ela descobriu que o seu bem-estar só pode ser atingível na solidão e nas intermináveis questões que lhe surgem e para as quais não encontra resposta.
Os seus cabelos dançam irrequietos ao sabor do vento, enquanto fixa o olhar num ponto de fuga, algures no meio do oceano. Pensativa, começa um longo percurso até dentro de si e descobre que é muito mais difícil estar sozinha do que acompanhada. Subitamente lembra-se de algumas frases de um livro que está a ler:

Almustafá foi questionado por um académico:

“Fala-nos sobre Conversar

E Almustafá respondeu:

Conversais quando deixais de estar em paz com os vossos pensamentos. Quando já não podeis viver na solidão do vosso coração, viveis nos vossos lábios e o som que deles sai é diversão e passatempo. E em muitas das vossas conversas, o pensamento é quase dizimado. O pensamento é uma ave que precisa de espaço, numa jaula de palavras pode, na verdade, abrir asas, mas não pode voar. Entre vós, há aqueles que procuraram os faladores porque têm receio de estar sozinhos.
O silêncio da solidão revela perante os seus olhos a nudez do seu ser e, por isso, preferem fugir.”


Sorriu serenamente e pensou “todos nós somos uma caixinha de surpresas, a diferença é que ao passo que alguns se questionam acerca de si mesmos, outros passam a vida projectados no futuro ou centrados em futilidades para fugir à nudez do seu ser.

Citação do livro: O profeta de Kahlil Gibran

Sem comentários:

Enviar um comentário

O seu pensamento