segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Compaixão


Olho para ti e vejo os trilhos rugosos marcados no teu rosto. Pareces velha, mas nem tanto, no fundo da tristeza dos teus olhos vejo a vida que lamentas ter vivido.
Encontras-te aí, à porta deste café pedindo compaixão a quem vai passando.
A vergonha, essa, ficou retida lentamente em cada decepção que foste sentindo ao longo da vida.
Timidamente decides entrar e sentas-te na mesa junto à porta de entrada. Ironicamente o teu campo de visão cruza-se com o meu. Quase telepatia sentes-te observada. Sentes que me revejo na tua velhice, não por lá já ter chegado, mas por saber que um dia me encontrarei com ela. Tens no rosto as decepções, os desgostos, as desilusões de todos os que abandonaram.
Agora pedes esmola.
Agora solicitas um segundo de atenção.
Neste momento sinto uma paragem no tempo. Os olhares cruzam-se novamente, vês-me escrever. Sinto-te tranquila, quando a imagem da minha mãe me salta ao pensamento e sinto-me em paz, pois tudo fiz e farei para que essa mãe nunca sinta a ausência que tu sentes.

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