
Oh! Como cantarei o teu valor,
Se és tu a melhor parte do meu ser?
P’ra que teço a mim próprio meu louvor?
Não é bem meu, se a ti o oferecer?
Por isso mesmo, vamos ser dois entes,
E perca o nosso amor a unidade,
Para que eu possa, sendo nós diferentes,
Dar-te o que devo, sem colher metade.
Ausência! Oh, que amargura tu não eras,
Se o teu vagar penoso não deixasse
Pensar no belo amor e nas quimeras
Que o tempo fazem ver doce face!
Por ti, aprendo um todo a dividir,
Louvando um eu que não pode ouvir.
In: Os Sonestos de Shakespeare (XXXIX)
Ed.: 1962
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