terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Quem sou eu?


Encontro-me no silêncio da noite,
no caminho já percorrido
e esquecido no tempo
O tempo que deixa de existir
cada vez que passo
para outra existência de mim.
De mim que não sei quem será,
que ainda não inventei
na plenitude do meu pensamento.
Pensamento
que atropela a alma inquieta
nesta existência,
que teima em ser rebelde
às lições já aprendidas…mas
que custam atracar naquilo
que os outros enxergam
do outro lado de mim.
Corpo de menina,
numa existência de mulher,
numa alma amadurecida
pelos sucessivos descansos
e desassossegos
que se vai encontrando
em cada encarnação de si.

Vittoria

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Alegria e Tristeza


Disse uma mulher:
“Fala-nos da Alegria e da Tristeza.”E Almustafá retorquiu:
“A vossa alegria é a vossa tristeza desmascarada.
E o poço onde extraís o vosso riso esteve amiúde cheio
das vossas lágrimas.
Como poderia ser de outra forma?
Quanto mais fundo a tristeza se instala no vosso ser, maior alegria podeis conter.
Não é a taça que sustem o vosso vinho a mesma que foi cozida no formo do oleiro?
Não é a flauta que acalma o vosso espírito o mesmo pedaço de madeira que foi talhado com facas?
Quando estiverdes alegres, olhai para o fundo do vosso coração e descobrireis que só aquilo que vos deu tristeza para o vosso coração, e vereis que, em verdade, chorais por aquilo que o foi o vosso deleite.

Algum de vós dizeis:
“A alegria é maior do que a tristeza.”
Outros de vós dizeis:
“Não, a tristeza é maior.”
Mas eu digo-vos que são inseparáveis.
Chegam juntas, e quando uma se sentar, a sós, à vossa mesa,
Lembrai-vos que a outra dorme sobre a vossa cama.

De facto, ficais suspensos como balanças entre a vossa tristeza e a vossa alegria.
Só quando estais vazios é que estais parados e equilibrados.
Quando o zelador do tesouro vos levanta para pesar o ouro e a prata, a vossa alegria ou tristeza tem de subir ou descer.”


In: O Profeta de Kahlil Gibran

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Amor-Próprio


Quando me amei de verdade, pude perceber que a minha angústia, o meu sofrimento emocional, não passam de um sinal de que estou a viver contra a minha própria verdade.
Hoje sei o que isso é, chama-se
AUTENTICIDADE

Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar impor os meus desejos a alguém, mesmo sabendo que não é o momento, nem a pessoa está preparada, inclusive eu mesmo.
Hoje sei o que isso é, chama-se
RESPEITO

Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento.
Hoje sei o que isso é, chama-se
AMADURECIMENTO

Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exacto e que tudo acontecia correctamente.
E Então, pude relaxar.
Hoje sei o que isso é, chama-se
AUTO-ESTIMA

Quando me amei de verdade, deixei de me roubar o meu tempo e deixei de fazer projectos grandiosos para o futuro.
Hoje só faço aquilo que me dá prazer e me faz feliz, e que amo e faz rir o meu coração, da minha própria maneira e com o meu ritmo.
Hoje sei o que isso é, chama-se
SINCERIDADE

Quando me amei de verdade, livrei-me de tudo o que não era saudável para mim. Refeições, pessoas, coisas, situações e sobretudo, de tudo o que me pusesse constantemente para baixo, me afastasse de mim. Comecei por chamar esta atitude de “egoísmo saudável”.
Hoje sei o que isso é, chama-se
AMOR-PRÓPRIO

Quando me amei de verdade, desisti de querer ter sempre razão e, com isso, errei muito menos vezes.
Hoje descobri que isso se chama
HUMILDADE

Quando eu me amei de verdade, desisti de continuar a reviver o passado e de me preocupar com o futuro. Agora, mantenho-me no presente, que é onde TUDO acontece.
Hoje vivo um dia de cada vez e chamo a isso
PLENITUDE



In: O Segredo do Amor - Ruediger Schache

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Compaixão


Olho para ti e vejo os trilhos rugosos marcados no teu rosto. Pareces velha, mas nem tanto, no fundo da tristeza dos teus olhos vejo a vida que lamentas ter vivido.
Encontras-te aí, à porta deste café pedindo compaixão a quem vai passando.
A vergonha, essa, ficou retida lentamente em cada decepção que foste sentindo ao longo da vida.
Timidamente decides entrar e sentas-te na mesa junto à porta de entrada. Ironicamente o teu campo de visão cruza-se com o meu. Quase telepatia sentes-te observada. Sentes que me revejo na tua velhice, não por lá já ter chegado, mas por saber que um dia me encontrarei com ela. Tens no rosto as decepções, os desgostos, as desilusões de todos os que abandonaram.
Agora pedes esmola.
Agora solicitas um segundo de atenção.
Neste momento sinto uma paragem no tempo. Os olhares cruzam-se novamente, vês-me escrever. Sinto-te tranquila, quando a imagem da minha mãe me salta ao pensamento e sinto-me em paz, pois tudo fiz e farei para que essa mãe nunca sinta a ausência que tu sentes.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Ausência


Sentir a solidão
Sentir que não estás aqui
No murmúrio do mar
sinto a tua respiração
algo que me queres dizer
e não podes.
Porque não estás aqui!
Começo a sentir o
desespero da tua ausência
e com ela construo
um diário da tua presença
As lágrimas escorrem
Tal como o chorar
Das ondas do mar,
que me abraçam
Porque tu não estás aqui!


Vittoria (Maio/2009)

domingo, 3 de outubro de 2010

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Todo o Tempo do Mundo

Tenho todo o tempo do mundo para amar
Tenho todo o tempo do mundo para construir
Os castelos de areia e de pedras
Que juramos ser só nossos
Tenho todo o tempo do mundo
Para te querer
Para te sentir
Para te amar
No infinito de mim!

Vittoria


quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Amor


Depois disse Almitra:

“Fala-nos do Amor.”

Ele levantou a cabeça, contemplou o povo, e sentiu a calma instalar-se sobre todos. E Almustafá, com uma voz grandiosa declarou:

“Quando o amor vos acenar, sigam-no, ainda que os seus caminhos sejam difíceis e íngremes.
E quando as suas asas vos envolverem, abraçai-o, ainda que a espada escondida no meio da sua penugem vos possa ferir.
E quando ele falar convosco, acreditai nele, ainda que a sua voz possa destroçar os vossos sonhos, tal como o vento do norte devasta o jardim.

Pois mesmo quando o amor vos coroa, crucifica-vos e quando vos faz crescer, tolhe-vos.
Quando o amor se eleva à vossa altura e acaricia os ramos mais frágeis que vacilam ao sol, também se baixa até às vossas raízes, abanando-as quando se agarram à terra.
Quais feixes de milho, o amor junta-vos a ele.
Abana-vos para vos despir.
Peneira-vos para vos retirar a casca.
Mói-os até à brancura.
Amassa-vos até que fiqueis moles.
(…)
O amor não tem qualquer outro desejo senão o de acontecer.

Mas se amais e tiverdes desejos, deixai que estes sejam os vossos desejos:

Derreter e ser como um riacho que corre e canta a sua melodia à noite.

Conhecer a dor da ternura excessiva.

Sofrer pela nossa própria concepção de amor.

Sangrar com vontade e alegria.

Acordar com a alvorada e com o coração a levitar, dando graças por mais um dia e amor.

Repousar ao meio-dia e meditar sobre o êxtase do amor.

Regressar a casa, à noite, gratos.

E depois adormecer com uma oração pelo nosso amado e uma canção de louvor nos lábios.”


In: O profeta – Kahlil Gibran

sábado, 18 de setembro de 2010

Abraço


Tudo o que podemos alcançar são meras páginas que poderiam compor um livro que ficará para sempre inacabado

Tudo o que podemos alcançar são meras recordações que marcam aquilo que ainda não vivemos de um amor tão esperado

Tudo o que podemos alcançar são meros acasos que sabemos não existir dentro de mim e de ti naquele abraço aclamado

Tudo o que podemos alcançar são meras quimeras que voam ao vento sem direcção e que muitos encontros haviam quebrado

Tudo o que podemos alcançar é a esperança de um dia nos desfazermos nas ondas do mar esquecendo o tão já chorado

Tudo o que podemos alcançar: eu morro-te dentro de mim e tu despes-me d’ me ter num abraço do sangue derramado.

Vittoria (2010)

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Consolo









Dentro da tristeza que sinto em não te ter só para mim
Está o consolo de saber que é a mim que amas
Dentro da tristeza que sentes em não me ter só para ti
Está o consolo em saberes que é a ti que amo
Dentro de mim e de ti…
Está a certeza que um dia estaremos juntos para sempre
Partilharemos aquilo que já sentimos como sendo nós
A outra parte que nos completa e dá vida dentro da morte
Desta morte que se torna vida no infinito


Vittoria (2009)

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Encontrei-me com Shiva


Um colega por sentir que eu era uma nova aluna dizia “temos que estar aqui simplesmente para estar e deixar-nos ir, sem pensar em mais nada e sem tentar ser perfeitos”.

Escutei, entrei na sala que parecia uma divisão vinda directamente da Índia, ao fundo uma espécie de altar com o Deus Shiva, espectacular! Lindo! A professora acende um incenso, completa-se o ambiente perfeito.

Deixei-me ir sem saber muito bem onde iria, ou se chegaria a algum lugar, senti que cheguei dentro de mim, principalmente na fase final da aula dedicada ao relaxamento.
Há uma auto-observação do corpo, da respiração, do relaxamento mental e físico, é o milagre de nos observarmos a nós, de estarmos conscientes de cada gesto, cada movimento.

Decidi incluir o Yôga nas muitas coisas que vou fazendo na vida.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Discurso sobre o filho-da-puta

O pequeno filho da puta
é sempre
um pequeno filho da puta;
mas não há filho da puta,
por pequeno que seja,
que não tenha
a sua própria
grandeza,
diz o pequeno filho da puta.
no entanto, há
filhos-da-puta que nascem
grandes e filhos da puta
que nascem pequenos,
diz o pequeno filho da puta.
de resto,
os filhos da puta
não se medem aos
palmos,diz ainda
o pequeno filho da puta.
o pequeno
filho da puta
tem uma pequena
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o pequeno
filho da puta.
no entanto,
o pequeno filho da puta
tem orgulho
em ser
o pequeno filho da puta.
todos os grandes
filhos da puta
são reproduções em
ponto grande
do pequeno
filho da puta,
diz o pequeno filho da puta.
dentro do
pequeno filho da puta
estão em ideia
todos os grandes filhos da puta,
diz o
pequeno filho da puta.
tudo o que é mau
para o pequeno
é mau
para o grande filho da puta,
diz o pequeno filho da puta.
o pequeno filho da puta
foi concebido
pelo pequeno senhor
à sua imagem
e semelhança,
diz o pequeno filho da puta.
é o pequeno filho da puta
que dá ao grande
tudo aquilo de que
ele precisa
para ser o grande filho da puta,
diz o
pequeno filho da puta.
de resto,
o pequeno filho da puta vê
com bons olhos
o engrandecimento
do grande filho da puta:
o pequeno filho da puta
o pequeno senhor
Sujeito Serviçal
Simples Sobejo
ou seja,
o pequeno filho da puta.

II

o grande filho da puta
também em certos casos começa
por ser
um pequeno filho da puta,
e não há filho da puta,
por pequeno que seja,
que não possa
vir a ser
um grande filho da puta,
diz o grande filho da puta.

no entanto,
há filhos da puta
que já nascem grandes
e filhos da puta
que nascem pequenos,
diz o grande filho da puta.
de resto,
os filhos-da-puta
não se medem aos
palmos, diz ainda
o grande filho-da-puta.
o grande filho da puta
tem uma grande
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o grande filho da puta.
por isso
o grande filho da puta
tem orgulho em ser
o grande filho da puta.
todos
os pequenos filhos da puta
são reproduções em
ponto pequeno
do grande filho da puta,
diz o grande filho da puta.
dentro do
grande filho da puta
estão em ideia
todos os
pequenos filhos da puta,
diz o
grande filho da puta.
tudo o que é bom
para o grande
não pode
deixar de ser igualmente bom
para os pequenos filhos da puta,
diz
o grande filho da puta.
o grande filho da puta
foi concebido
pelo grande senhor
à sua imagem e
semelhança,
diz o grande filho da puta.
é o grande filho da puta
que dá ao pequeno
tudo aquilo de que ele
precisa para ser
o pequeno filho da puta,
diz o
grande filho da puta.
de resto,
o grande filho da puta
vê com bons olhos
a multiplicação
do pequeno filho da puta:
o grande filho da puta
o grande senhor
Santo e Senha
Símbolo Supremo
ou seja,
o grande filho da puta.

Autor: Alberto Pimenta


In: Discurso sobre o filho-da-puta. 6ª Edição, Editora 7 Nos, Porto (2010)

(a 1ª Edição data de 1977)

sábado, 21 de agosto de 2010

Riso


O riso é eterno, a vida é eterna, a celebração contínua.
Os actores mudam, mas o drama continua. As ondas mudam, mas o oceano continua. O leitor ri, o leitor muda – e outra pessoa qualquer ri – mas o riso continua.
O leitor celebra, outra pessoa qualquer celebra, mas a celebração continua. A existência é contínua, é um continuum. Não existe um único momento em aberto nela. Nenhuma morte é morte, porque toda a morte abre uma nova porta – é um começo. Não existe fim para a vida, existe sempre um novo começo, uma ressurreição.
Se o leitor mudar a sua tristeza para celebração, então será também capaz de mudar a sua morte para ressurreição. Portanto, aprenda arte enquanto ainda há tempo.

In: Revelações e parábolas para a renovação da vida quotidiana(pág 138), OSHO.

sábado, 14 de agosto de 2010

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Florbela Espanca

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Construir ou Plantar?




Cada pessoa, durante a sua existência pode ter duas atitudes: Construir ou Plantar.
Os construtores podem demorar anos nas suas tarefas, mas um dia terminam aquilo que andaram a fazer.
Então param, e ficam limitados pelas suas próprias paredes. A vida perde o sentido quando a construção acaba. Mas existem os que plantam. Estes, às vezes, sofrem com as tempestades, as estações, e raramente descansam.
Mas, ao contrário de um edifício, o jardim nunca pára de crescer. E, ao mesmo tempo que exige a atenção do jardineiro, também permite que, para ele, a vida seja uma grande aventura.


In: Palavras Essenciais de Paulo Coelho

sábado, 24 de julho de 2010

Contraluz - Backlight

Fui ver hoje o Filme do realizador português Fernando Fragata, gravado nos Estados Unidos.

O que mais destaco no filme é sem dúvida o paralelismo com a vida real, muitas vidas cruzadas, paralelas, por acaso (se este existisse). Faz-nos desesperar pela luz que que por vezes se apaga e nos deixa na espectativa do que irá acontecer a seguir.
Quando a desesperança toma conta nós, por vezes há algo ou alguém que subitamente pode mudar o rumo dos acontecimentos e quem sabe talvez encontrar a felicidade?

Se fosse possível a nomeação para um óscar (não estou a sonhar ao dizer isto), seria seguramente para a realização.

Não querendo ser repetitiva, lanço aqui novamente o tube "Tela" que foi a banda sonora utilizada para a publicitação do filme. Há apenas um reparo a fazer, esta música aparece apenas no final do filme, foi pouco.

sábado, 17 de julho de 2010

Paralelo de mim...




Por vezes penso que tudo o que sinto excede a capacidade de compreensão de mim mesma.
Sinto-me uma árvore com milhares de galhos, todos eles diferentes, que transbordam da minha alma.
Alma que não conheço. Ainda!
Alma que às vezes me fere outras me consola, mas que continua incógnita e perdida em tudo o que sou, ou aparento ser.
É como se existisse um mundo paralelo, invisível, que me trespassa e me transcende em tudo. Sinto-me limitada, incapaz, quero muito mais.
Não sou nada. Nada, além de mim mesma. Mas serei eu?
Ou apenas uma cópia de alguma coisa?
Encerro em mim tantas realidades que me confundem, me desiludem e me desamparam.
Já deixei de achar injusta a vida, a alma, as traições, o desamor, a inveja.
Quero apenas ser eu, se é que existo?

Vittória

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Pablo Neruda - Me gustas cuando callas…

Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
Y parece que un beso te cerrara la boca.

Como todas las cosas están llenas de mi alma
Emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te parece a mi alma,
Y te pareces a la palabra melancolía.

Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
Déjame que me calle con el silencio tuyo.

Déjame que te hable también con tu silencio
Claro como una lámpara, simples como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.

Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.


Poema 15 – Me gustas cuando callas…
In: Vinte Poemas de Amor e Uma canção Desesperada de Pablo Neruda, pág. 56/58


terça-feira, 13 de julho de 2010

Pensar é Evoluir


“O homem vulgar, por mais dura que lhe seja a vida, tem ao menos a felicidade de a não pensar. Viver a vida decorrentemente, exteriormente, como um gato ou um cão - assim fazem os homens gerais, e assim se deve viver a vida para que possa contar a satisfação do gato e do cão.
Pensar é destruir. O próprio processo do pensamento o indica para o mesmo pensamento, porque pensar é decompor. Se os homens soubessem meditar no mistério da vida, se soubessem sentir as mil complexidades que espiam a alma em cada pormenor da acção, não agiriam nunca, não viveriam até. Matar-se-iam assustados, como os que se suicidam para não ser guilhotinados no dia seguinte. “

In: O Livro do Desassossego, Fernando Pessoa


Agora eu:

Se não querem ir além de… então não pensem, resumam-se à mísera condição biológica e animalesca. Estejam na vida apenas “porque sim”, respondam aos estímulos externos porque o cérebro assim o quis.
Existem os que estão cá para viver caminhando, e os que caminham porque biologicamente vão vivendo, ao sabor do vento, do politicamente correcto.
São escravos minha gente! Escravos da racionalidade que os protege contra as pulsões do Id (princípio do prazer - Freud) e teimam em manter-se no Super-ego, porque pensam que assim vão ser aceites pelos outros, que não irão quebrar as regras.

Lamento desapontar, mas as regras existem para serem quebradas, derrubadas, aniquiladas. Então não estão a ver que estas regras e dogmas foram criadas por homens muitas vezes cobardes e prisioneiros do medo de pensar?

Pensem…muito!
Questionem…sempre!

Se quiserem realmente viver…

Vittoria


Apenas uma curiosidade:

"(...) basicamente, um campo de batalha . Ele é um porão escuro em que uma senhora solteirona bem-educada (o superego) e um macaco -sexo louco (o id) estão sempre em combate mortal, a luta a ser arbitrada por sua vez pelo sistema nervoso ( o ego). "

Don Bannister a respeito da posição de Freud acerca da mente humana.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Brinde à Amizade

Homenagem a uma grande amiga, obrigada por existires na minha vida e pelo convite para assistir ao concerto do Rodrigo Leão naquela noite fria de Novembro de 2009 no coliseu do Porto. Um brinde à nossa amizade!

...chorei, muitas vezes ao sentir a música na sua profundidade poética.




sexta-feira, 9 de julho de 2010

Tela

Olho a tela e nada sai
Angústia ferida d’alma
Acendo desesperadamente
O incenso da esperança
…Metamorfose calma
Nestas tintas sem cor
Sem sentido
Sem conforto
Num eterno desatino
Que está morto?
Leva-me contigo
Nessa viagem
Liberta-me!
Devolve-me

Vittoria



Tela música dos Santos & Pecadores e banda Sonora do Filme Contraluz que estreia a 22 de Julho e que não irei perder.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Fernando Pessoa


Quem te disse ao ouvido esse segredo
Que raras deusas têm escutado –
Aquele amor cheio de crença e medo
Que é verdadeiro só se é segredado?...
Quem to disse tão cedo?

Não fui eu, que te não ousei dizê-lo.
Não foi um outro, porque não o sabia.
Mas quem roçou da testa teu cabelo
E te disse ao ouvido o que sentia?
Seria alguém, seria?

Ou foi só que o sonhaste e eu te o sonhei?
Foi só qualquer ciúme meu de ti
Que o supôs dito, porque o não direi,
Que o supôs feito, porque o só fingi
Em sonhos que nem sei?

Seja o que for, quem foi que levemente,
A teu ouvido vagamente atento,
Te falou desse amor em mim presente
Mas que não passa do meu pensamento
Que anseia e que não sente?

Foi um desejo que, sem corpo ou boca,
A teus ouvidos de eu sonhar-te disse
A frase eterna, imerecida e louca –
A que deusas esperam da ledice
Com que o Olimpo se apouca.


In: Obra essencial de Fernando Pessoa “Poesia do Eu”, pág. 305

Escrito em: 10-08-1934

Imagem: Estátua de Venus (Deusa do amor), bem mais bonita ao vivo no Musée du Louvre, Paris.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Mafalda Veiga e Uma noite sem dormir

Naquela noite no coliseu (espectacular!), senti cada música com a profundidade de quem tenta viver o presente. Consegui contra todas as expectativas negativas que me assolavam a mente. Uma dessas nuvens era a companhia que eu levara naquela noite, mas a música tão profunda, a entrega da Mafalda, a profundidade das letras fizeram-me abstrair.

A razão pela qual hoje coloco este link aqui é simples…a noite passada apesar da hora tardia a que me fui deitar, a minha mente só tinha espaço para a letra desta música, cantei-a vezes sem conta (mentalmente) …virei-me dezenas de vezes na cama…

Uma letra profunda.






Mafalda Veiga ao vivo no Coliseu do Porto.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Silêncio da solidão


Ela caminhava por aquela estrada que os seus pés conheciam intuitivamente, sentia-os molhados, ia descalça. Sim, descalça. Enquanto se dirigia para o banco do costume, pensava: “Eu sou aquela que busca os silêncios”. Os silêncios que para muitos são momentos perturbadores, inquietantes e dilacerantes do bem-estar interno.
Ela descobriu que o seu bem-estar só pode ser atingível na solidão e nas intermináveis questões que lhe surgem e para as quais não encontra resposta.
Os seus cabelos dançam irrequietos ao sabor do vento, enquanto fixa o olhar num ponto de fuga, algures no meio do oceano. Pensativa, começa um longo percurso até dentro de si e descobre que é muito mais difícil estar sozinha do que acompanhada. Subitamente lembra-se de algumas frases de um livro que está a ler:

Almustafá foi questionado por um académico:

“Fala-nos sobre Conversar

E Almustafá respondeu:

Conversais quando deixais de estar em paz com os vossos pensamentos. Quando já não podeis viver na solidão do vosso coração, viveis nos vossos lábios e o som que deles sai é diversão e passatempo. E em muitas das vossas conversas, o pensamento é quase dizimado. O pensamento é uma ave que precisa de espaço, numa jaula de palavras pode, na verdade, abrir asas, mas não pode voar. Entre vós, há aqueles que procuraram os faladores porque têm receio de estar sozinhos.
O silêncio da solidão revela perante os seus olhos a nudez do seu ser e, por isso, preferem fugir.”


Sorriu serenamente e pensou “todos nós somos uma caixinha de surpresas, a diferença é que ao passo que alguns se questionam acerca de si mesmos, outros passam a vida projectados no futuro ou centrados em futilidades para fugir à nudez do seu ser.

Citação do livro: O profeta de Kahlil Gibran

Shakespeare


Oh! Como cantarei o teu valor,
Se és tu a melhor parte do meu ser?
P’ra que teço a mim próprio meu louvor?
Não é bem meu, se a ti o oferecer?

Por isso mesmo, vamos ser dois entes,
E perca o nosso amor a unidade,
Para que eu possa, sendo nós diferentes,
Dar-te o que devo, sem colher metade.

Ausência! Oh, que amargura tu não eras,
Se o teu vagar penoso não deixasse
Pensar no belo amor e nas quimeras
Que o tempo fazem ver doce face!

Por ti, aprendo um todo a dividir,
Louvando um eu que não pode ouvir.

In: Os Sonestos de Shakespeare (XXXIX)
Ed.: 1962

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Destino


Sabes bem que sentir
Implica ir dentro de nós

Sabes bem que jamais
Poderias ir contra ti mesmo

É da dor que crescemos
Que vamos ao infinito
Que queremos não fugir

Da madrugada sem dormir
Do pensamento que atormenta
Da dor no peito que desperta
O sentimento que não se controla
Do andar sem destino
Disto tudo que te conto

Mas vale a pena estar assim
Atormentada deste descontrolo
Desta insegurança
Desta amargura
Desta vida sem vida


Vittoria

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Pablo Neruda









Dois...
Apenas dois.
Dois seres...
Dois objectos patéticos.
Cursos paralelos
Frente a frente...
...Sempre...
...A olharem-se...
Pensar talvez:
“Paralelos que se encontram no infinito...”
No entanto sós por enquanto.
Eternamente dois apenas.


Pablo Neruda

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Mergulho no Pensamento

Nada melhor do que começar com o início de um pequeno livro "Sonetos Completos" de Antero de Quental...

"Os seus versos são sentidos, são vividos como nenhuns; mas o sentir e o viver deste homem é de uma natureza especial que tem por fronteiras físicas as paredes do crânio, mas que não tem fronteiras no mundo real, porque a imaginação paira librada nas asas de uma razão especulativa para a qual não há limites. O poeta é por isso um místico, e o crítico, um filósofo. O misticismo e a metafísica, o sentimento e a razão, a sensibilidade e a vontade, o temperamento e a inteligência, combatem-se, às vezes dilacerando-se.
O génio presupõe a intuição de uma verdade visceral ou fundamental da natureza."

Nada mais mágico que a construção literária, a soma de todas as letras que dão origem à obra, à arte, ao sentir, à expulsão visceral da intuição artística. Espero com este blog sobrevoar a vulgaridade e mergulhar bem fundo no pensamento humano. Vittoria